12 de outubro de 2010

Uma história pelo dia das crianças


Depois de falar muito alto e muito depressa, com aquela voz agudinha inconfundível, ela levantou rápido, deu as costas e saiu. Eu sabia o que significava. Saí correndo na ponta dos pés para não fazer barulho cheguei pertinho de minha mãe e cochichei desesperadamente "- Mamãe, mamãe, estão brigando!"

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O que faz uma criança tão nova ficar espiando uma casal de namorados pela janela, escondida? Qualquer um diria que são os sonhos de qualquer menina de um dia casar e ter filhos...

Não lembro de nenhum sentimento desse tipo.

Mas era só ouvir a voz dela, que corria pra janela. E era sempre a voz dela. Ele falava tão baixo e controlado...

Ficava espiando...conversarem apenas...namorados de portão...sentados na escada...a noite, do lado da minha janela.

E quando ela falava alto e rápido sabia que estavam discutindo...eu corria pra contar pra minha mãe.

Afinal eu era a dama de honra daquele casamento, era meu dever protegê-lo.

Admirava-os. Não como uma projeção de mim mesma, mas porque tinha certeza que eram feitos um para o outro, não tinha mais volta.

Prestava atenção em todas as palavras dele, para analisá-las, afinal ela me deu o título de dama de honra daquele futuro casamento.

E quando alguém citava alguma qualidade sua eu apenas pensava "hummm, isso é bom!"

Afinal de contas eu era...era meu dever...

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Mas acontece que quando, enfim, se casaram eu tinha uns 15 anos, não podia mais ser a dama de honra, já estava grande. Mas eu não me importei pois fui dama de honra deles minha vida inteira, e ninguém ficou neste posto por tanto tempo quanto eu. E o casamento foi o mais lindo que eu já vi, até hoje...

...e eles ainda estão casados e com três filhos. Nem precisaram que eu os protegesse...

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