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2 de novembro de 2010

Sobre a primeira mulher eleita presidente do Brasil



No post anterior, Porque eu voto em Dilma, expliquei razões de porque dar meu voto contra uma campanha machista, intensificada no segundo turno por José Serra.

Poderia agora vir e dizer que a vitória de Dilma é um tapa na cara do machismo e da homofobia.

O que não deixa de ser verdade...

Mas também não deixa de ser uma reafirmação de nosso atraso como sociedade, e de como somos sim, uma sociedade machista.




A primeira mulher presidente.


Desde o plantão da Globo com aquela musiquinha fúnebre anunciando a vitória de Dilma nas urnas que 09 entre 10 jornais vem repetindo essa manchete e o fato virou notícia nos telejornais matutinos, vespertinos, noturnos e nos programas de variedades.

Fantástico! Temos nossa primeira mulher presidente.

Mas a própria repetição desse discurso não reafirma que somos uma sociedade machista? Se nós achássemos normal a igualdade entre os sexos, tanto dentro de casa, quanto no ambiente de trabalho, estaríamos alardeando aos quatro ventos que uma mulher se tornou presidente do Brasil? Então por que fazemos isso? Porque em pleno século XXI, uma mulher alcançar um posto tão alto ainda é um fato extraordinário.

Tudo bem que é um fato histórico para nós. A Dilma sempre vai ter a honra de ser a “primeira” mas ela nem é a primeira mulher presidente do mundo para ser tão histórico assim. Aqui mesmo, na vizinha Argentina há 03 anos que a presidente é uma mulher.

O que tem de tão extraordinário numa mulher ser presidente se temos mulheres ministras, juízas, chefes de policia, governadoras, prefeitas... Afinal, a maior mudança que aconteceu neste país não foi eleger um presidente operário? Depois dele, qualquer outro “primeiro” será um pouco “segundo”.

O preconceito se revelou na campanha de José Serra, na campanha da mídia, mas ainda se revela depois de sua vitória. Ficamos atônitos com uma mulher eleita, os paulistas ficaram atônitos com a força do nordeste, e os preconceitos se revelam.

Não enxergo a vitória de Dilma como uma vitória das mulheres, da luta feminista pela igualdade, é a derrota do machismo, da homofobia e da tentativa apelativa de misturar Estado e religião. Mas talvez seja só a vitória contra o machismo presente nessas eleições. Ganhamos a batalha, mas será que acabou a guerra?

13 de outubro de 2010

Por que eu voto em Dilma.

Decidi escrever um post político que expressa minha livre opinião. Não faço campanha pra ninguém.

Minha mãe me ensinou valores. Valores que são minhas diretrizes. Algumas mudaram com o tempo, alguns se fortaleceram.

E o mais forte deles: Sou feminista. Não sigo uma ideologia pronta, mas tenho convicções e me respeito enquanto mulher. Sei a dificuldade que mulheres anteriores a mim passaram e isso me faz dar mais valor ainda e me respeitar, e respeitá-las.

Eu ia votar nulo

Não acredito em Dilma como presidente (votei em Marina no primeiro turno) e, por ideologia política, não voto em direita.

Dilma não conseguiu ganhar meu voto.

Mas Serra conseguiu por ela... com sua campanha machista.

Serra usou o possível lesbianismo de Dilma como plataforma de campanha. Claro, Dilma não faz o estereótipo feminino e fraquinho. Fica fácil então, pela sua aparência dura, dizer que Dilma é sapatona. Não voto em um homem que ache o lesbianismo uma falha de caráter. Ou não mereço meus amigos coloridos.

Por ele usar indiretamente a condição de mulher de Dilma nas entrevistas, nos debates, nas propagandas políticas diárias, ele conseguiu meu voto em Dilma.

Usa o fato dela ser mulher como se fosse uma fragilidade que a impede de ser presidente. Isso ficou claro no debate do dia 10 de outubro, na Band, quando uma mulher caluniada tentava se defender. Mas uma mulher que não tem uma aparência bonitinha e de mulherzinha e que não fica quietinha ante os ataques é motivo de piada, e é ridicularizada e rebaixada sob os adjetivos  "agressiva" e "treinada".


Sou a favor do aborto, sou a favor do casamento gay . Creio que a Dilma também seja, mas ela não é corajosa a ponto de falar, infelizmente. Mas também não quero um homem retrógrado e machista na presidência. Seria um atraso às conquistas de mulheres e gays.



Também estou farta de ver e ouvir homens e mulheres fazendo piadas machistas com Dilma porque ela não tem uma aparência graciosa, delicada, submissa.


Assim como nossa sociedade apoiada em valores heterossexistas, Serra não aceita  uma mulher em primeiro plano. E diz que ela não vai governar o país, e sim Lula, ou Dirceu.


Note que eu não estou colocando em xeque a veracidade dessas informações, mas o fato de que para Serra uma mulher não governaria esse país, seria mandada, manipulada por dois homens.


E agora é pessoal. Não aceito mulher que vote em Serra enquanto fala de direitos, superioridade feminina, independência ou qualquer coisa do tipo. Parece extremista, mas o machismo está tão declarado neste 2° turno que não consigo entender que não enxerguem.


Que vote nulo.


Não estou discutindo plataformas políticas, nem propostas de campanha, porque até Dilma e Serra se esqueceram disso. E se eles preferem se apoiar em argumentos morais, eu voto contra o Serra.

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