No post anterior, Porque eu voto em Dilma, expliquei razões de porque dar meu voto contra uma campanha machista, intensificada no segundo turno por José Serra.
Poderia agora vir e dizer que a vitória de Dilma é um tapa na cara do machismo e da homofobia.
O que não deixa de ser verdade...
Mas também não deixa de ser uma reafirmação de nosso atraso como sociedade, e de como somos sim, uma sociedade machista.
Desde o plantão da Globo com aquela musiquinha fúnebre anunciando a vitória de Dilma nas urnas que 09 entre 10 jornais vem repetindo essa manchete e o fato virou notícia nos telejornais matutinos, vespertinos, noturnos e nos programas de variedades.
Fantástico! Temos nossa primeira mulher presidente.
Mas a própria repetição desse discurso não reafirma que somos uma sociedade machista? Se nós achássemos normal a igualdade entre os sexos, tanto dentro de casa, quanto no ambiente de trabalho, estaríamos alardeando aos quatro ventos que uma mulher se tornou presidente do Brasil? Então por que fazemos isso? Porque em pleno século XXI, uma mulher alcançar um posto tão alto ainda é um fato extraordinário.
Tudo bem que é um fato histórico para nós. A Dilma sempre vai ter a honra de ser a “primeira” mas ela nem é a primeira mulher presidente do mundo para ser tão histórico assim. Aqui mesmo, na vizinha Argentina há 03 anos que a presidente é uma mulher.
O que tem de tão extraordinário numa mulher ser presidente se temos mulheres ministras, juízas, chefes de policia, governadoras, prefeitas... Afinal, a maior mudança que aconteceu neste país não foi eleger um presidente operário? Depois dele, qualquer outro “primeiro” será um pouco “segundo”.
O preconceito se revelou na campanha de José Serra, na campanha da mídia, mas ainda se revela depois de sua vitória. Ficamos atônitos com uma mulher eleita, os paulistas ficaram atônitos com a força do nordeste, e os preconceitos se revelam.
Não enxergo a vitória de Dilma como uma vitória das mulheres, da luta feminista pela igualdade, é a derrota do machismo, da homofobia e da tentativa apelativa de misturar Estado e religião. Mas talvez seja só a vitória contra o machismo presente nessas eleições. Ganhamos a batalha, mas será que acabou a guerra?