
A criança que sofre de insônia pode não ter energia suficiente para gastar durante o dia, o que interfere na capacidade

Para muitos isso pode ser um problema, inclusive para minha mãe que convive com uma filha coruja (ou morcego, ou muriçoca, como preferir), mas confesso, nunca abri a boca para dizer “sofro de insônia” – claro, salvo depois de crescida, quando começaram as minhas preocupações com o relógio – porque eu gostava de ter insônia, eu me divertia muito sozinha com a casa toda só para mim. Era o meu momento de liberdade.
Hoje, analisando essa "característica" , posso até afirmar que passar noites inteiras sen dormir foi importante para minha formação intelectual, pois foi assim que me introduzi no mundo cultural. Tantos livros adiantados durante a madrugada, várias revistinhas em quadrinhos lidas ao som de grilos e corujas e principalmente... muitos filmes assistidos na calada da noite.

Porém, no meio de tantos filmes, tem um especial, que eu considero o marco zero de tudo. Uma obra-prima, que tenho na memória até hoje – nem tanto pela narrativa, mas da sensação que me causou. Como se fosse um elo, minha primeira memória, que me fez virar uma amante da sétima arte.

Eu devia ter uns nove ou 10 anos e um filme em preto e branco não deveria me interessar tanto. Acho que devo ter ficado em frente da TV porque não estava passando coisa melhor mesmo. Eu nunca tinha ouvido falar de Hitchcock, e nem sabia que estava assistindo um filme que iria demorar vários e vários anos até eu vê-lo de novo. O filme era Disque M para matar, do já citado mestre do suspense Alfred Hitchcock.
Lembro que mantive meus olhos vidrados, sem piscar nem um segundo, com medo de me perder na trama. O interesse em saber aonde aquela história iria chegar ao fim das contas... era como se eu nunca tivesse assistido um filme em toda minha (curta) vida.
É engradeçado como eu não lembro quase nada da história (naquela época), a sensação foi mais forte. A ansiedade, a angústia era quase anormal, lembro que tremia. Quando dei por mim, o filme já havia terminado e eu estava tão envolvida que nem tinha notado que já havia amanhecido. A sala já estava toda iluminada pela luz do sol e dava pra ouvir o som dos passarinhos e dos primeiros carros passando nas ruas... foi como se tivesse acordado de um sonho mágico.
